Confirmada em 12 de junho, Epsilon Gruids (EGR) marca entrada oficial da ciência nacional no mapa internacional da astronomia de meteoros. Fenômeno foi observado em diferentes regiões do país.
Diario Tocantinense-O céu brasileiro ganhou protagonismo inédito no cenário internacional da astronomia. Em uma conquista celebrada pela comunidade científica, o país teve confirmada a primeira chuva de meteoros descoberta por pesquisadores nacionais, batizada de Epsilon Gruids (EGR). A validação oficial foi feita pela União Astronômica Internacional (IAU) e divulgada na noite da última quarta-feira, 12 de junho.
Coordenada por integrantes da Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros (BRAMON), a identificação da chuva contou com a participação do astrônomo brasileiro Renato Poltronieri, responsável por registrar os traços luminosos no céu com câmeras de observação instaladas no interior de São Paulo.
A EGR tem seu ponto radiante localizado na constelação do Grou, próximo à estrela Epsilon — o que lhe confere o nome técnico. Trata-se de uma chuva de baixa intensidade, com média de dois a quatro meteoros por hora, observada principalmente durante o mês de junho. A confirmação coloca o Brasil ao lado de nações com tradição em mapeamento espacial, como Estados Unidos, Japão e Alemanha.
Descoberta foi construída em rede desde 2016
Apesar de a validação oficial ter sido feita em 2024, o trabalho de identificação da EGR começou ainda em 2016, com análise de registros captados entre os anos de 2014 e 2015. A equipe da BRAMON identificou padrões regulares no céu do Hemisfério Sul e iniciou a catalogação de dados, traçando o possível radiante da chuva.
Em 2017, após cruzamento de milhares de registros feitos por estações espalhadas pelo país, os pesquisadores submeteram os dados ao Meteor Data Center, braço da IAU responsável por validar novas chuvas de meteoros. O processo envolveu análise orbital, trajetória dos fragmentos e frequência estatística dos eventos.
Segundo especialistas, a EGR se distingue por apresentar uma órbita retrógrada e elementos consistentes com uma chuva regular, ainda que de baixa atividade. As estimativas apontam para uma origem ainda desconhecida, possivelmente associada a um cometa antigo.
Observação em junho: onde foi vista
O auge da atividade da EGR ocorre por volta do dia 11 de junho, mas os meteoros podem ser observados entre os dias 25 de maio e 29 de junho. A última aparição registrada em 2025 foi flagrada por câmeras de vigilância astronômica instaladas em pontos do interior paulista, Paraná, Minas Gerais e Tocantins, entre outros estados com baixa poluição luminosa.
A BRAMON mantém mais de 80 estações de monitoramento ativas no Brasil, que funcionam de forma autônoma e colaborativa, enviando imagens em tempo real para análise científica. Essas estações, operadas por voluntários, têm papel essencial no monitoramento do céu nacional — especialmente em regiões pouco cobertas por grandes observatórios.
O que representa para a ciência brasileira
A descoberta marca um avanço técnico e simbólico para a astronomia nacional. Segundo pesquisadores ouvidos pela reportagem, o reconhecimento da EGR é resultado direto da articulação entre ciência cidadã e pesquisa acadêmica — dois pilares considerados estratégicos para o desenvolvimento científico em países com orçamento limitado para grandes observatórios espaciais.
“A descoberta da EGR é uma demonstração clara de que o Brasil pode ser protagonista também na ciência espacial. A validação internacional reforça o trabalho silencioso de dezenas de voluntários e astrônomos dedicados à observação sistemática do céu”, afirma um professor do curso de Física da UFT.
Pesquisadores ouvidos também apontam que a confirmação pode estimular a criação de novos polos de pesquisa em astronomia no interior do país, além de atrair atenção de universidades internacionais para parcerias.
Chuva será visível novamente até o fim de junho
Para os entusiastas da astronomia, a boa notícia é que a EGR ainda pode ser observada nos céus brasileiros até o dia 29 de junho, preferencialmente após a meia-noite, em áreas com céu limpo e sem iluminação artificial. A expectativa é que, nos próximos anos, o número de registros aumente com o aprimoramento das tecnologias de detecção.
Com a descoberta e validação da EGR, o Brasil não apenas conquista um marco técnico, mas também assume uma posição de prestígio no campo da astronomia observacional. Em tempos de cortes orçamentários na ciência, o feito representa resistência, criatividade e capacidade de articulação entre profissionais, amadores e instituições públicas.
A BRAMON, criada em 2014, segue como uma das redes mais ativas do mundo no monitoramento de meteoros. E agora, com a EGR oficialmente em seu currículo, ganha também o selo de pioneirismo.
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