A comédia brasileira ganhou novos contornos com a estreia da série “Pablo & Luisão”, lançada no Globoplay no fim de maio. Criada e protagonizada por Paulo Vieira, a produção, dividida em 16 episódios, tem sido elogiada por sua combinação de humor regional, crítica social sutil e afeto familiar. Nos bastidores, a química entre os atores Otávio Müller (Pedro) e Aílton Graça (Luisão) é um dos trunfos da série, que também reforça a presença da cultura do interior brasileiro em uma plataforma de alcance nacional.
A trama acompanha o jovem Paulo (vivido por Yves Miguel na infância), filho de Conceição (Dira Paes) e Luisão (Aílton Graça), em sua rotina marcada por situações cotidianas e personagens excêntricos — entre eles Pedro, o “primo” do pai, que sempre aparece com soluções mirabolantes para problemas comuns.
— O Pedro é aquele cara que acha que entende de tudo. Ele traz conselhos duvidosos, mas com tanto afeto que ninguém tem coragem de interromper — brinca Otávio Müller, que interpreta o personagem com doses equilibradas de comicidade e ternura. — Foi um presente fazer esse papel. A amizade entre os dois [Luisão e Pedro] tem algo de infantil e ao mesmo tempo profundo. É quase como se fossem irmãos de infância que nunca cresceram.
A série foi dirigida por Luis Felipe Sá, com colaboração de um time de roteiristas formado por nomes como Bia Braune, Mauricio Rizzo e Fernando Ceylão. A ideia, segundo o criador Paulo Vieira, era unir o humor brasileiro clássico com uma estética mais moderna e roteiros mais enxutos. Os episódios têm cerca de 26 minutos e equilibram situações engraçadas com momentos de emoção.
— Eu queria contar uma história que fosse minha, mas que fosse de todo mundo — explica Paulo Vieira. — “Pablo & Luisão” nasce de lembranças, de causos que ouvi da minha família, das pessoas do meu bairro. É uma comédia que tem sotaque, cheiro de comida no quintal, de roupa secando no varal. A gente precisa ver isso nas telas.
Improviso, afeto e bastidores
As gravações ocorreram nos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro, e também em locações que simulam o interior brasileiro. Segundo Aílton Graça, o set foi marcado por improvisos e por uma relação de afeto entre elenco e equipe.
— Era comum a gente errar uma cena de propósito só para poder repetir e ar mais tempo junto — conta Graça, que interpreta o carismático Luisão, pai protetor e figura central da série. — Foi um projeto em que o riso vinha antes mesmo da câmera rodar.
Já Dira Paes, que vive a matriarca Conceição, elogiou a sensibilidade do texto:
— O roteiro é doce sem ser piegas, crítico sem ser pesado. É uma série que abraça quem assiste, e isso não é comum.
Recepção da crítica
A produção vem sendo bem recebida por críticos e especialistas em televisão. Para a jornalista Taty Bruzzi, do portal NaTelinha, a série representa “um retorno à comédia genuinamente brasileira, com raízes no cotidiano e no afeto familiar”.
A crítica especializada também destacou a presença de personagens pretos, nordestinos e interioranos em papéis centrais, o que marca um o importante na representatividade audiovisual. Segundo a professora e pesquisadora de mídia Maria Clara Farias, da UFRJ:
— Há uma quebra de paradigma quando você coloca um protagonista preto e gordinho como centro da narrativa, cercado por uma família estruturada, com humor, amor e conflito. Isso subverte estereótipos arraigados na dramaturgia brasileira.
Futuro da série
Com os 16 episódios já disponíveis no Globoplay, o público tem respondido positivamente nas redes sociais, o que tem gerado rumores sobre uma segunda temporada. A Globo ainda não confirmou oficialmente a renovação, mas fontes internas indicam que os roteiristas já trabalham em novas ideias.
— A gente sente que essa história pode ir mais longe. As pessoas se identificam. Isso é tudo o que um contador de histórias quer — diz Paulo Vieira.
“Pablo & Luisão” não apenas diverte. A série propõe uma nova forma de fazer comédia no Brasil: com sotaque, com identidade e com o coração. Num mercado acostumado a repetir fórmulas, a ousadia de olhar para dentro — para os quintais, os vizinhos, os causos — se torna um ato de renovação. E talvez, de resistência.
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